Batalhas com depressão e ideias suicidas: defensor do Dallas Stars detalha ausência de 22 meses na NHL

Dores de cabeça pós-traumáticas. Este foi o diagnóstico dado pelos médicos após o defensor Stephen Johns ter lesionado a cabeça durante um período de treinamentos antes do início da temporada 2018-2019 da NHL. Recentemente, quase dois anos depois (22 meses para ser mais preciso), o jogador do Dallas Stars, que voltou a atuar antes da pausa da temporada 2019-2020 por conta da pandemia do coronavírus, deu uma entrevista ao The Athletic, em que falou sobre o que enfrentou em parte de sua jornada de volta ao gelo: crises graves de depressão, que incluíam sentar em sua cama e compor notas de suicídio em sua cabeça. “Levei muito tempo para escapar desse ciclo de pensar essas coisas horríveis”.

Johns perdeu toda a temporada 2018-19 com o que foi inicialmente diagnosticado como dor de cabeça pós-traumática, experimentando primeiro os sintomas de uma lesão na cabeça durante o trainning camp (fase inicial de treinamentos na pré-temporada) em Boise, Idaho. Ele não atuou em nenhuma partida da pré-temporada (amistosos) ou jogos da temporada regular, praticou esporadicamente com o resto do time e não participou de nenhuma viagem.

Nesta temporada, sua jornada começou com passos positivos durante o verão, quando ele patinou durante o campo de desenvolvimento (development camp, que conta com jogadores jovens, antes dos profissionais retornarem das férias), mas foi descartado indefinidamente no primeiro dia de treinamento do time principal. Gradualmente, Johns começou a patinar e a praticar com o Stars antes de uma temporada de condicionamento com a equipe afiliada da American Hockey League (AHL, principal liga de desenvolvimento da NHL), o Texas Stars. que resultou em uma noite de quatro pontos (um gol e três assistências) em seu retorno à ação competitiva. Johns jogou em 17 jogos durante a temporada regular com o Dallas Stars antes da temporada ter sido interrompida devido à pandemia de coronavírus, marcando duas vezes e ajudando em outros três gols antes da parada.

O ponto alto da temporada de Johns pode ter ocorrido no dia 3 de fevereiro contra o New York Rangers, quando ele marcou seu primeiro gol desde que voltou a atuar pelo Dallas Stars, e com seus pais presentes no Madison Square Garden, em Nova York.

“Durante todo esse processo, não fui só eu que passei pelo inferno”, disse Johns, emocionado. “Como pais, eles querem ajudar e, para eles estarem aqui e ver isso, eu provavelmente sei que meu pai estava com certeza chorando. Estou muito animado para vê-los e dar um grande abraço nos dois. Como pais, eles querem ajudar, mas não puderam”, disse Johns naquela ocasião, sem entrar em detalhes sobre o que passou.

Enquanto Johns falava sobre seu retorno ao gelo, ele esperou se aprofundar e se abrir sobre seu retorno ao hóquei até terça-feira (23), quando detalhou a batalha em uma entrevista ao The Athletic.

“Eu acordava às 4h da manhã e pensava mais sobre isso, depois tomava um remédio para ansiedade durante o dia para tirar uma soneca e isso me colocava em um ciclo vicioso”, disse Johns. “Eu não estava realmente comendo, não estava dormindo, não estava fazendo nada. … Levei muito tempo para escapar desse ciclo de pensar essas coisas horríveis”.

Ele creditou sua namorada, Taylor Zakarin, bem como o apoio da organização Dallas Stars para ajudar a tornar seu retorno uma realidade. Não é possível precisar o ponto exato em que Stephen Johns iniciou uma virada em sua condição psicológica, mas em algum lugar ao longo do caminho, Johns pediu ajuda. E isso foi determinante. Ele contou a Zakarin sobre sua depressão e seus pensamentos suicidas. Depois, ele disse ao gerente geral da Stars, Jim Nill, e a seus agentes, Steve e Brian Bartlett. Em um dos momentos mais assustadores de sua vida, Johns se apoiou naqueles que se importavam com ele.

“Ele foi aberto comigo sobre isso, e por isso sou eternamente grata”, disse a namorada, Zakarin. “Estou tão agradecida que ele sentiu que isso era algo que ele poderia falar comigo sem julgamento, algo que ele poderia falar comigo sem medo de que eu surtasse”.

O clube deu a ele tempo para se cuidar durante a temporada 2018-2019, mas também fez um bom trabalho ao encontrar um equilíbrio entre mantê-lo envolvido com a equipe e não pressioná-lo a retornar muito rapidamente.

O gerente geral do Dallas Stars, Jim Nill, incentivou Johns a participar de reuniões de equipe, patinar com mais frequência e estar perto da equipe nos dias do jogos. Ele também começou a participar das funções sociais da equipe novamente.

Enquanto Johns estava originalmente muito animado para jogar pelo técnico Jim Montgomery, ele também elogiou especificamente o técnico interino dos Stars, Rick Bowness, por como ele ajudou durante esse processo. No dia seguinte ao momento emocional de Johns, em 3 de fevereiro, quando ele marcou seu primeiro gol em um jogo fora de casa contra o New York Rangers, ele começou a sentir dores de cabeça novamente e temia que seu retorno ao esporte pudesse durar pouco.

Stephen Johns disse ao The Athletic sobre uma reunião que ele teve com Bowness depois daquele jogo, em que o agora então técnico lhe perguntou se ele também gostaria de jogar no dia seguinte, e Johns desabou dizendo contando sobre dores de cabeça adicionais. O jogador disse que Bowness foi compreensivo e não agressivo, e fez um bom trabalho tratando-o como um ser humano.

“Não posso agradecer o suficiente por isso”, disse Johns. “Ele (Rick Bowness) se importava comigo, não apenas com Stephen, o jogador de hóquei”.

O apoio oferecido pelos companheiros de equipe, pessoas mais próximas e que convivem diariamente com Stephen Johns, tornou-se orgulho por ver o defensor reagir e conseguir dar a volta por cima. “Saúde mental é muito importante. Eu sabia o quando fisicamente forte Stephen Johns é. leia o artigo (do The Athletic) para entender o quando mentalmente forte ele é também. Amo você, cara!”, postou o atacante Tyler Seguin.

No início deste mês, o defensor do Stars, Stephen Johns, se tornou o candidato da equipe ao Bill Masterton Memorial Trophy. O prêmio é dado ao jogador da NHL que melhor exemplifica qualidades de perseverança, espírito esportivo e dedicação ao hóquei. A escolha é feita por votação dos integrantes da Associação dos Escritores Profissionais de Hóquei. Em breve, a NHL vai divulgar os três finalistas. O vencedor é anunciado após a temporada, durante a cerimônia do NHL Awards.

Hockey on!

*Hockey4Life é uma série de postagens que contam histórias de vida, superação e gentilezas, e que tem o hóquei no gelo ou seus personagens como pano de fundo.

Trilha sugerida para a leitura: Papa Roach – Elevate (Live @ Ace of Spades, Sacramento,CA January 18th, 2019)

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