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Atacante Jordin Tootoo transforma suicídio do irmão em ajuda à comunidade e conscientização
- Por Diogo Finelli
- Atualizado: 10 de setembro de 2018
“Fique bem, Jor. Vá até o fim. Cuide da família. Você é o cara! Ter.”
Estas foram as últimas palavras que o atacante Jordin Tootoo não ouviu de seu irmão mais velho, Terence, mas leu em um bilhete. Uma nota de suicídio. O jogador, de 35 anos, que está sem clube desde que defendeu o Chicago Blackhawks, na temporada 2016-17 da NHL, não gosta de falar sobre o assunto. O fato aconteceu em 28 de agosto de 2002, quando Terence tinha 22 anos e se matou com um tiro.
*este texto faz referência ao dia 10 de setembro, “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio” (World Suicide Prevention Day).
“Não vou entrar em detalhes”, disse Jordin Tootoo em entrevista ao jornalista Bob Duff, do site de notícias The Windsor Star, em fevereiro de 2013. Ao invés de falar sobre a tragédia, Jordin fortalece a memória de seu irmão procurando ajudar pessoas que lidam com o mesmo trauma.
Em 2011, quando estava no Nashville Predators, criou o Team Tootoo Fund, para ajudar uma ampla gama de causas de caridade, incluindo organizações sem fins lucrativos que abordam a consciência e a prevenção ao suicídio, bem como aqueles que apoiam jovens em risco.
“Eu tenho que voltar alguns anos, em Nashville. É apenas uma coisa pequena que quero dar à comunidade, algo com a minha cara. Para mim, isso toca o meu coração. Parte do nosos trabalho tem dado retorno. Como profissional, você quer fazer as coisas certas para a comunidade, para os fãs”.
Nascido na cidade de Churchill, em Manitoba, no Canadá, Jordin Tootoo foi criado em Nunavut, uma comunidade inuit (inuk), uma nação indígena (antes chamada de “esquimó”, nome que não se usa mais) que habita as regiões árticas do Canadá (saiba mais sobre os Inuit aqui). Com descendência inuk por parte de pai e ucraniana por parte de mãe, ele foi o primeiro representante inuit a entrar na NHL. A taxa de suicídio entre os povos aborígenes canadenses é mais de duas vezes superior à do resto do país.
Em 2010, Jordin Tootoo entrou em um programa de reabilitação para o tratamento do uso excessivo de álcool, decorrente do luto pela perda do irmão. No gelo, na NHL, defendeu o Nashville Predators (2003-2012), Detroit Redwings (2012-2014), (New Jersey Devils (2014-2016) e Chicago Blackhawks (20016-2017), disputou mais de 700 partidas e ficou marcado por várias brigas em jogos, algumas agressões e jogadas consideradas desleais e covardes. Após o tratamento contra o alcoolismo, voltou a atuar, no fim de 2010.
O irmão, Terence, havia disputado a temporada anterior ao seu falecimento na East Coast Hockey League (ECHL), uma liga semi-profissional de hóquei no gelo, pelo Roanoke Express, equipe que esteve em atividade entre 1993 e 2004. Terence era um herói na comunidade. Mas, quando foi preso e acusado de dirigir embriagado, sentiu que havia decepcionado o seu povo. Esse teria sido um dos motivos que o levaram a cometer suicídio.
“Os caras passam por coisas diferentes ao longo de suas vidas. Não importa quem você é, um encanador ou um professor da escola, todos nós temos problemas que enfrentamos todos os dias. É sobre ter uma mente aberta e não ter medo de falar”, disse Jordin Totto, sobre a incapacidade de as pessoas falarem sobre suicídio, algo que o motiva a tentar evitar o sofrimento de alguém. Em março de 2015, Jordin Tootoo gravou uma mensagem para o Instituto Canadense de Pesquisa em Saúde (Canadian Institutes of Health Research, CIHR) contando um pouco de sua história (veja no vídeo acima).
Em outubro de 2014, em parceria com o jornalista esportivo canadense Stephen Brunt, lançou um livro contando sobre sua vida: “All the Way: My Life on Ice”. Na publicação, Jordin fala de sua vida pessoal, inclusive, dos problemas que viveu, do suicídio do irmão Terence e dos problemas com álcool.
“Não é só um livro de hóquei. Tive muito sucesso na minha vida, mas, junto, vêm algumas dificuldades, e algumas eu tive que resistir”.
No livro, Tootoo também fala sobre a decisão tomada há quatro anos, quando procurou tratamento para o abuso de substâncias. Algo que, segundo ele, mudou sua vida. O atacante diz que escrever o livro foi parte do processo de cura, que demorou três anos.
“Você tem que ser capaz de deixar as coisas acontecer. Quando você é capaz de falar sobre isso, libera a negatividade e você se torna mais confortável em sua própria pele”.
Tootoo é um grande modelo para os jovens em Nunavut, onde ele diz que o abuso de substâncias e “tudo o que vem junto”, incluindo depressão e suicídio, é galopante. Mas, segundo ele, existem soluções.
“Todo mundo está passando por uma luta que ninguém mais sabe, e quando você fala sobre isso publicamente, ajuda a tirar esse peso dos seus ombros”.
Por fim, Jordin Tootoo falou, é claro, sobre o tema principal, suicídio, e a importância de trabalhar para a sua prevenção:.
“Eu só quero que as pessoas entendam que há luz no fim do túnel. As pessoas têm muita energia negativa dentro e vergonha para se abrir e falar sobre isso. Este livro é para realmente ajudar as pessoas a se abrirem e não ter medo de falar. Eu não quero que essas dificuldades terminem de uma forma negativa, tirando uma vida e, infelizmente, tive essa experiência com meu irmão Terence”.
Hockey on!
*Hockey4Life é uma série de postagens que contam histórias de vida, superação e gentilezas, e que tem o hóquei no gelo ou seus personagens como pano de fundo.
Trilhas sugeridas para a leitura:
Sixx: A.M. – Accidents Can Happen
Three Days Grace – Never Too Late
Good Charlotte – Hold On
Papa Roach – Before I Die
Buckcherry – Sloth
Sixx: A.M. – Relief (Live @ Electric Factory, Philadelphia, 28/04/2015)
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Sobre Diogo Finelli
Jornalista esportivo desde 2000, fã de hóquei no gelo desde 1995, quando conheceu o esporte nos jogos de computador. Torcedor do New York Rangers, fã de hard rock, e que encontrou no hóquei no gelo a identificação pelos ensinamentos e valores que o esporte propõe.
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